Toxicocinética
A pele é a principal fonte de exposição ao arsénio e a toxicidade sistémica tem sido reportada em pessoas que têm contacto dérmico com soluções de arsénio inorgânico. O arsénio transmitido por via aérea é, na sua grande maioria, o Óxido de arsénio trivalente [2].
ABSORÇÃO:
Os compostos arsénicos entram no organismo por ingestão, inalação ou por via tópica. Cerca de 90% do arsénio inorgânico é bem absorvido pelo trato gastrointestinal, ao passo que os compostos arsénicos de baixa solubilidade são absorvidos com menor eficiência. Compostos orgânicos também são absorvidos mas em menor percentagem, como aqueles que estão presentes no marisco. A deposição nas vias aéreas e absorção destes compostos dos pulmões é dependente do tamanho das partículas e da sua forma química, sendo que quanto menores, maior é a sua passagem para os alvéolos pulmonares [2].
DISTRIBUIÇÃO:
Encontra-se distribuído por todo o organismo, sendo transportado pelo sangue. Além dos órgãos em que se concentra, como músculo, pulmões ou rins, ele também se concentra nas unhas e cabelo e este facto tem sido usado como biomarcador de exposição passada ou actual [2].
METABOLIZAÇÃO:
Este passo é muito relevante na maior ou menor toxicidade deste semi-metal. Na maioria dos casos, há metilação dos compostos, sendo que a metilação do arsénio pode variar consoante idade, sexo, polimorfismos e gravidez, sendo que neste último há uma maior concentração de compostos orgânicos que, como são maus tóxicos, pode originar problemas fetais. A metilação de espécies inorgânicas não é considerada um processo de destoxificação, bem pelo contrário [2].
A forma pentavelente (5+) é rapidamente reduzida à trivalente (3+) pela arsenato reductase, havendo redução de dois electrões. O arsenito é metilado a metilarsonato e a ácido dimetilarsínico (DMA), sendo este o principal composto resultante desta metabolização. Para ocorrer esta metilação é necessária a S-adenosilmetionina como dador de metilo. Este é o agente oxidante na passagem da forma 3+ à 5+. A redução da forma pentavalente à trivalente e a conjugação desta com a glutationa (GSH) pode ocorrer de forma enzimática ou não enzimática. A reacção não enzimática acontece quando há elevados níveis de GSH no meio reaccional [1]. Os metabolitos ácido metilarsínico (MMA) e ácido dimetilarsínico (DMA) são gerados durante este processo e são mais tóxicos do que os compostos que lhes deram origem, sendo os mais reativos. Os compostos presentes na urina são 10-30% inorgânicos, 10-20% ácido metilarsínico e 55-75% ácido dimetilarsínico [2]. A maioria dos metabolitos biliares é conjugada com a glutationa [1].

Ilustração 1: Metilação oxidativa dos compostos de arsénio [1]

Ilustração 2: Conjugação dos compostos de arsénio com a glutationa [1]

Ilustração 3: Metabolismo do arsénio [2]
EXCREÇÃO:
Excretado maioritariamente na urina. O tempo de semi vida do arsénio que é ingerido ronda as 10 horas e 50-80% é excretado e três dias. A semi-vida dos arsénios metilados ronda as 30 horas. O arsénio também "adora" a pele e é excretado por descamação da mesma ou pelo suor [2].
1. Watanabe, T. and S. Hirano, Metabolism of arsenic and its toxicological relevance. Archives of Toxicology, 2013. 87(6): p. 969-979.
2. Liu, J., R.A. Goyer, and M.P. Waalkes, Toxic Effects of Metals, in Casarett & Doull's, Toxicology-The basic science of poisons, C.D. Klaassen, Editor. 2008, McGraw-Hill Companies, Inc: United States of America. p. 936-939.