Carcinogenicidade
O arsénio foi classificado como carcinogénico pela IARC (International Agency for Research on Cancer). Esta classificação foi baseada em vários estudos epidemiológicos que mostraram a existência de uma associação da exposição ao arsénio e o desenvolvimento do cancro [8].
A exposição, a longo prazo, ao arsénio contribui para o desenvolvimento de vários tipos de cancro, como por exemplo, o cancro da pele, dos pulmões, do fígado, da bexiga, do rim, entre outros [11].
O genoma das células cancerígenas é instável. Para manter a estabilidade genómica, as células normais têm de evitar a duplicação de células geneticamente anormais, reparando o ADN (ácido desoxirribonucleico) danificado. A instabilidade das células está relacionada com danos no ADN, reparação do ADN ineficiente, disfunção dos telómeros, paragem da mitose, apoptose e desregulação epigenética [11].

Ilustração 6: Representação esquemática da perda da integridade genómica na célula exposta ao arsénio. Numa célula normal existe “vigilância” adequada por proteínas do checkpoint do ciclo celular, reparação do ADN e segregação cromossómica, o que contribui para manter a integridade genómica. Quando isto é “perturbado” pela exposição ao arsénio, leva à instabilidade de microssatélites (MIN) e à instabilidade cromossómica (CIN). Adaptado de Bhattacharjee, P. et al., 2013 [11].
Instabilidade cromossómica (CIN):
A exposição ao arsénio, a longo prazo, resulta em mudanças estruturais, incluindo a separação anormal de cromatídios irmãos, a segregação cromossómica anormal e alterações cromossómicas numéricas (aneuploidia e poliploidia) [11].
Instabilidade de microssatélites (MIN):
Os microssatélites são repetições em série de fragmentos curtos de ADN (1-6 nucleótidos), e surgem como resultado de uma pequena inserção repetida ou deleção repetida de bases dentro do nucleótido, devido a um erro de replicação. Defeitos na reparação do ADN originam instabilidade de microssatélites e estão associados a vários tipos de cancros [11].
O arsénio origina espécies reativas de oxigénio que resultam do stress oxidativo, que por sua vez inibem processos de reparação do ADN e podem iniciar a instabilidade de microssatélites. Ainda não se observou nenhuma influência direta da instabilidade de microssatélites no cancro induzido por arsénio, devido ao facto de ainda não existirem muitos estudos envolvendo a instabilidade de microssatélites na toxicidade induzida por arsénio e carcinogénese, mas com mais estudos o “cenário” pode mudar [11].
8. Hughes, M.F., Arsenic toxicity and potential mechanisms of action. Toxicology Letters, 2002. 133(1): p. 1-16.
11. Bhattacharjee, P., M. Banerjee, and A.K. Giri, Role of genomic instability in arsenic-induced carcinogenicity. A review. Environment International, 2013. 53(0): p. 29-40.